Reprocessamento de rejeitos de minério de estanho: síntese de caracterização, concentração mineral e valorização

Abstract

A mineração de estanho na Província Estanífera de Rondônia, historicamente centralizada na operação do Garimpo Bom Futuro, gerou ao longo de décadas grandes volumes de rejeitos de minério que representam, simultaneamente, um passivo ambiental de risco e um recurso econômico estratégico subutilizado. Este trabalho avalia a viabilidade técnica e econômica do reprocessamento desses materiais por meio de uma revisão bibliográfica sistemática, abrangendo publicações de 1997 a 2025, com o objetivo central de correlacionar a caracterização tecnológica, a eficiência das técnicas de concentração mineral e as rotas de valorização alinhadas aos princípios da economia circular. A análise crítica da literatura revela que a eficiência do processo de recuperação é determinada fundamentalmente pela origem geológica do depósito: diferentemente dos rejeitos de minérios primários, que demandam etapas onerosas de moagem e flotação devido ao baixo grau de liberação e à complexidade mineralógica, os rejeitos de depósitos aluvionares de Rondônia beneficiam-se de um processo de pré-beneficiamento natural pelo intemperismo, apresentando um alto grau de liberação da cassiterita. Os resultados demonstram que rotas de concentração gravimétrica, utilizando equipamentos de baixo custo operacional como mesas vibratórias e jigues, apresentam alta performance para estes materiais, viabilizando a obtenção de concentrados comerciais. Além disso, a análise geoquímica mostra que a baixa concentração de contaminantes e a ausência de níveis críticos de radioatividade tornam os rejeitos de Bom Futuro mais seguros e competitivos em comparação com outros depósitos globais. Esse cenário geoquímico favorável viabiliza não só a recuperação de coprodutos de alto valor agregado, como nióbio, tântalo e zircão, mas também possibilita a aplicação segura do rejeito na construção civil e em novas tecnologias de armazenamento de energia, transformando efetivamente um passivo ambiental em um ativo sustentável.