Avaliação da influência da alteração no uso e cobertura do solo no escoamento superficial e vazão de pico na bacia do igarapé Tancredo Neves, Porto Velho, Rondônia.

Abstract

Este trabalho teve como objetivo analisar a evolução da vazão de pico e do comportamento hidrológico da Bacia Hidrográfica do Igarapé Tancredo Neves, localizada em Porto Velho–RO, comparando os anos de 1985 e 2023, a fim de compreender como as mudanças no uso e cobertura do solo influenciaram o escoamento superficial e a resposta da bacia aos eventos de precipitação. A pesquisa foi desenvolvida por meio de uma metodologia estruturada em três etapas principais. Na primeira etapa, elaborou-se a equação Intensidade-Duração-Frequência (IDF) utilizando dados da estação pluviométrica 82825D/A925D, com posterior organização das séries de máximas anuais, detecção e remoção de outliers por meio do método interquartil (IQR) e ajuste estatístico dos dados pela distribuição de Gumbel, permitindo obter parâmetros adequados para representar eventos extremos de chuva e gerar os hietogramas de projeto empregados nas simulações. Na segunda etapa, foram produzidos os mapas de uso e cobertura do solo e de escoamento superficial com o auxílio de técnicas de geoprocessamento, aplicação do Modelo Digital de Terreno (MDT) e uso do método SCS Curve Number (CN), que possibilitou estimar a capacidade de infiltração e as perdas iniciais para cada cenário analisado. As alterações no uso do solo mostraram significativo avanço da urbanização e redução das áreas vegetadas ao longo das últimas décadas, o que resultou no aumento do CN médio de 70 em 1985 para 75 em 2023, indicando menor infiltração e maior tendência ao escoamento direto. Na terceira etapa, realizou-se a modelagem hidrológica no software HEC-HMS, adotando o método SCS para a transformação chuva-vazão e utilizando as sub-bacias delimitadas automaticamente a partir do MDT, juntamente com os hietogramas gerados pela equação IDF ajustada. As simulações mostraram que a vazão de pico aumentou de 186,8 m³/s em 1985 para 232,5 m³/s em 2023, representando um acréscimo de 24,5%. Houve ainda um aumento de 23,7% no volume total escoado e uma antecipação aproximada de 10 minutos no tempo de ocorrência da vazão máxima, evidenciando uma resposta mais rápida da bacia aos eventos críticos de chuva. Os resultados demonstram que a bacia se tornou mais vulnerável hidrologicamente, com maior propensão a alagamentos, cheias e sobrecarga da drenagem urbana, resultado direto do aumento das áreas impermeabilizadas e da intensificação do escoamento superficial. Assim, o estudo reforça a importância de políticas de planejamento urbano, adoção de práticas sustentáveis de drenagem e monitoramento contínuo para reduzir riscos hidrológicos em áreas urbanizadas, sobretudo em regiões que passam por processos de expansão e ocupação acelerada como Porto Velho.